O arquitecto francês Jean Nouvel, vencedor do prémio Pritzker em 2008, participou na Imagina 2010, uma importante feira europeia dedicada à tecnologia 3D, que decorreu recentemente em Monte Carlo. Nesse evento, Nouvel, autor de mais de duzentos projectos espalhados por todo o mundo, deu uma palestra sobre a utilização do computador e das tecnologias 3D no seu trabalho.
JEAN NOUVEL – O computador alterou completamente o trabalho do arquitecto, porque agora pode-se simular tudo, pode-se desenhar mais rapidamente, pode-se decompor um edifício em partes separadas. Pode-se verificar todas as combinações, e daí haver novas e extraordinárias possibilidades para a concepção e para a realização.
CLAUDIO ROCCO – O senhor disse que as imagens são mentiras. Com as novas tecnologias mente-se menos?
J N – Com as novas tecnologias pode-se mentir na mesma e talvez melhor. É aí que reside o problema ético. Mas também é verdade que essa mentira sempre existiu: eu falava das perspectivas ditas “de promoção”, com um grande ângulo em que as divisões aparecem três vezes maiores, com carros de luxo em primeiro plano, as árvores e tudo o que quisermos. Deixou-se de ver o que é a arquitectura, e só se vêem sinais de luxo, que estão à venda ao mesmo tempo. Esta mentira existe sempre, mas com o computador se existir uma ética, pode-se representar as coisas de forma muito, muito fiável. Assim, seria bom estabelecer um certo número de regras, uma espécie de código ético que permita assegurar que o que se vê é verdadeiro.
CR – Acha que algumas das suas obras não poderiam ter sido realizadas sem o computador?
JN – Isso é absolutamente verdade, ou seja, em primeiro lugar não teria as ideias que tive, porque o computador abriu-me a mente. Por exemplo, eu trabalho muito com a luz e existem coisas que nunca poderia ter imaginado sem o computador.
Em segundo lugar existem coisas que nem sequer poderia realizar: actualmente, por exemplo, estamos a trabalhar na abóbada do Louvre Abu Dhabi, que é uma espécie de poço de luz organizado através das abóbadas perfuradas, e onde as manchas de luz desaparecem e se juntam.
Se quisesse simular e trabalhar isso há dez anos teriam sido necessários dois ou três séculos, o que é demasiado para mim. Com o computador pude fazê-lo.
CR – Chegamos à relação com o passado.
Em algumas das suas obras, por exemplo, na Ópera de Lyon, integrou estruturas antigas em estruturas modernas. Qual é a relação do arquitecto com o passado? Como se integra o moderno no antigo?
JN – Creio que devemos servir-nos sempre da história e dos precedentes. O que falta frequentemente na arquitectura contemporânea é esse elo com a história e com a geografia.
Eu digo que é sempre necessário estabelecer uma relação com o precedente e reutilizar mais frequentemente essa matéria. Efectivamente, na História muitas obras-primas foram feitas ao longo de séculos por sedimentação.
CR – As cidades de hoje! Acha que as cidades de hoje continuarão a existir dentro de cinquenta ou cem anos? Como vê, como imagina a cidade do futuro?
JN – É preciso ter em consideração que o futuro não são cidades novas. As cidades estão sempre em mutação. O que é importante actualmente é ver quais são os factores dessa mutação. No séc.XX acumularam-se rapidamente muitos bairros novos, muitos edifícios novos que não estão em interferência, estão simplesmente acrescentados.
A cidade é muito estereotipada, por isso é necessário que as cidades se movimentem em torno de si próprias. É esse movimento que lhes vai dar uma complexidade e, espero, mais humanidade e mais profundidade. O futuro das cidades já lá está em cerca de cinquenta por cento.
Uma das coisas extraordinárias em “Blade Runner”, o filme de Ridley Scott, é que se via bem que o futuro estava sempre em conflito ou em relação, ou em sobreposição com a matéria existente, com os edifícios do século passado. É essa relação entre o futuro e o passado que criou a cidade.
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JEAN NOUVEL – O computador alterou completamente o trabalho do arquitecto, porque agora pode-se simular tudo, pode-se desenhar mais rapidamente, pode-se decompor um edifício em partes separadas. Pode-se verificar todas as combinações, e daí haver novas e extraordinárias possibilidades para a concepção e para a realização.
CLAUDIO ROCCO – O senhor disse que as imagens são mentiras. Com as novas tecnologias mente-se menos?
J N – Com as novas tecnologias pode-se mentir na mesma e talvez melhor. É aí que reside o problema ético. Mas também é verdade que essa mentira sempre existiu: eu falava das perspectivas ditas “de promoção”, com um grande ângulo em que as divisões aparecem três vezes maiores, com carros de luxo em primeiro plano, as árvores e tudo o que quisermos. Deixou-se de ver o que é a arquitectura, e só se vêem sinais de luxo, que estão à venda ao mesmo tempo. Esta mentira existe sempre, mas com o computador se existir uma ética, pode-se representar as coisas de forma muito, muito fiável. Assim, seria bom estabelecer um certo número de regras, uma espécie de código ético que permita assegurar que o que se vê é verdadeiro.
CR – Acha que algumas das suas obras não poderiam ter sido realizadas sem o computador?
JN – Isso é absolutamente verdade, ou seja, em primeiro lugar não teria as ideias que tive, porque o computador abriu-me a mente. Por exemplo, eu trabalho muito com a luz e existem coisas que nunca poderia ter imaginado sem o computador.
Em segundo lugar existem coisas que nem sequer poderia realizar: actualmente, por exemplo, estamos a trabalhar na abóbada do Louvre Abu Dhabi, que é uma espécie de poço de luz organizado através das abóbadas perfuradas, e onde as manchas de luz desaparecem e se juntam.
Se quisesse simular e trabalhar isso há dez anos teriam sido necessários dois ou três séculos, o que é demasiado para mim. Com o computador pude fazê-lo.
CR – Chegamos à relação com o passado.
Em algumas das suas obras, por exemplo, na Ópera de Lyon, integrou estruturas antigas em estruturas modernas. Qual é a relação do arquitecto com o passado? Como se integra o moderno no antigo?
JN – Creio que devemos servir-nos sempre da história e dos precedentes. O que falta frequentemente na arquitectura contemporânea é esse elo com a história e com a geografia.
Eu digo que é sempre necessário estabelecer uma relação com o precedente e reutilizar mais frequentemente essa matéria. Efectivamente, na História muitas obras-primas foram feitas ao longo de séculos por sedimentação.
CR – As cidades de hoje! Acha que as cidades de hoje continuarão a existir dentro de cinquenta ou cem anos? Como vê, como imagina a cidade do futuro?
JN – É preciso ter em consideração que o futuro não são cidades novas. As cidades estão sempre em mutação. O que é importante actualmente é ver quais são os factores dessa mutação. No séc.XX acumularam-se rapidamente muitos bairros novos, muitos edifícios novos que não estão em interferência, estão simplesmente acrescentados.
A cidade é muito estereotipada, por isso é necessário que as cidades se movimentem em torno de si próprias. É esse movimento que lhes vai dar uma complexidade e, espero, mais humanidade e mais profundidade. O futuro das cidades já lá está em cerca de cinquenta por cento.
Uma das coisas extraordinárias em “Blade Runner”, o filme de Ridley Scott, é que se via bem que o futuro estava sempre em conflito ou em relação, ou em sobreposição com a matéria existente, com os edifícios do século passado. É essa relação entre o futuro e o passado que criou a cidade.
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