domingo, 30 de agosto de 2009

Terra, vinhas e casas - Um projecto bem português

Terra, vinhas e casas

Promontório Arquitectos, João Luis Carrilho da Graça, João Paulo dos Santos e João Ferreira Nunes são alguns dos nomes que assinam projectos de arquitectura e paisagismo para um aldeamento de características vinícolas que vai nascer em Montemor- -o-Novo, no Alentejo.

O conceito do conjunto, designado L'AND VINEYARDS, é o de criar habitações e espaços verdes qualificados "para quem pretende usufruir da vivência do mundo rural, com o máximo de sofisticação" com uma "uma arquitectura marcadamente contemporânea do concilia a tradição cultural mediterrânica com a sofisticação sustentável", defende o promotor. Os lotes variam de cerca de 2000 metros quadrados até perto de 15 000 e as casas de 300 a 600 metros quadrados de área bruta de construção.

O suíço Peter Markli e o atelier Segison Bates Architects , do Reino Unido, fecham o colectivo de arquitectos, que assina cinco núcleos habitacionais cada. Distintos e personalizados, os núcleos têm em comum o facto de respeitarem "a morfologia e topografia do terreno, as casas moldarem-se ao seu meio envolvente, permitindo um relacionamento aberto e privilegiado com o ambiente rural".

O núcleo de Carrilho da Graça compõe-se de oito lotes e, conforme o arquitecto, descreve, : "Longilíneas e horizontais, as casas organizam-se num movimento radial em torno de um eixo, estabelecendo elas próprias os limites de cada lote, conformando grandes pátios/jardins e espaços de lazer privados. Esta organização garante a privacidade e enfatiza a relação visual com o território envolvente. À horizontalidade que evoca a arquitectura da região, contrapõe-se a verticalidade das torres que se erguem nas extremidades e conquistam a vista sobre a cidade e castelo."

Para o atelier Promontório, "a artificialidade é uma das características evidentes das implantações regionais alentejanas. A proposta refere este tema na implantação do núcleo. As casas acompanham as cotas, mas usam o terreno como suporte para a criação de um basamento onde assenta a casa. Cada unidade tem uma sala ampla que funciona como elemento central e organizador da tipologia.

À volta da sala, desenvolvem-se vários pátios, criando diferentes mundos de privacidade, numa relação franca com a paisagem". O colectivo de arquitectos projecta em oito lotes e é ainda o responsável pelos núcleos de serviços e equipamentos e os apartamentos do aldeamento.

Já José Paulo dos Santos " trabalha o ritmo, a proporção, a luz, os enquadramentos, o significado de cada material na caracterização dos espaços e volumes, intimamente relacionados com o contexto. Sem ostentação, mas com grande rigor (…). O património e o tempo constituem o principal ponto de partida das suas obras que, num equilíbrio de continuidade temporal,surgem como se desde sempre o conjunto fizesse sentido", conta o arquitecto portuense.

A rematar o conjunto, e tão importantes como os espaços construídos, os arranjos exteriores, da autoria de João Ferreira Nunes, são caracterizados da seguinte forma: "Abrangendo quer o espaço colectivo, quer as envolventes privadas de cada núcleo habitacional, o desenho paisagístico imprime áreas de vinha, olival, laranjal, pomar e montado, num modelo de gestão global que garante a manutenção do coberto vegetal espontâneo e natural do território".


Por: Cláudia Melo

Em: http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1348090&seccao=Arquitectura




sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Forte recessão na Foster and Partners



Norman Foster chama ao último ano de exercício um dos mais desafiadoras desde a fundação do seu atelier.

A extensão da perda é o resultado parcial dos £ 4,7 milhões do gasto com uma reestruturação da empresa após uma demissão de 400 funcionários este ano, apontando para uma diminuição significativa do trabalho de uma das empresas líderes do Reino Unido de arquitectos.

Embora o volume de negócios total do grupo tenha subido de 142,4 milhões de euros para 153,9 milhões de euros, o volume de projecto no Reino Unido caiu de 28,4 milhões ano passado até 18,6 milhões tendo existido também uma redução acentuada particularmente no continente europeu, com uma série de projectos na Rússia suspensa ou cancelada.

No entanto, o volume de negócios da companhia na Ásia quase duplicou, a partir de 12,3 milhões até $ 23,2 milhões e os negócios no Oriente Médio e Austrália que registaram também um bom desempenho.

O exercício que terminou em abril 2009 tem sido uma das mais difíceis desde o início da sua prática, não obstante as recessões passadas em que tem resistido sua história mais de 40 anos ', disse Foster, afirmando de que estes acontecimentos não deixaram com que o atelier tivesse em igual periodo um dos melhores anos em termos de excelência de projecto em qualidade e inovação criativa em busca de novas soluções.

domingo, 23 de agosto de 2009

Atelier Português vence concurso de ideias - "Sol e Sombra" - PROAP

'Sol y Sombra'

Entre 163 equipas de 25 países foi o arquitecto paisagista português João Ferreira Nunes, que coordena o atelier PROAP, quem venceu o concurso de ideias para o parque urbano da área florestal de Valdebebas, e que será o maior de Madrid.

Apoiado pelos paisagistas espanhóis Bet Figuera e o atelier Opera, João Ferreira Nunes irá intervir numa área de aproximadamente 80 hectares, correspondente à expansão urbana a norte de Madrid, promovida pela municipalidade da capital espanhola.

A equipa intitulou de "Sol y Sombra" a sua proposta, uma vez que, refere, "representa um dos temas do parque, um tema que nos fala dos contrastes do lugar, e que o parque interpreta através das cumplicidades estabelecidas entre as grandes áreas de clareira e as zonas de bosque, entre os taludes densamente revestidos e o desafogo da linha de cumeeira, através das superfícies de água e das suas vibrações e através da plasticidade das estruturas inertes do parque, muros maciços brancos e lisos, que constituem represas que limitam pavimentos, que suportam terras, que albergam funções, como muros habitacionais".

Do ponto de vista da organização do espaço, serão intercaladas zonas de clareira e zonas de bosque, a forma mais tradicional da paisagem europeia, reproduzida aliás em parques notáveis, como o da Fundação Calouste Gulben- kian.

Este padrão de cheio e vazio terá diversos momentos e formas: junto à malha urbana madrilena já existente, o bosque será pouco denso e o destaque pertencerá às clareiras. Na transição para as futuras habitações da expansão da cidade por Valdebebas, o tema será tratado de forma mais urbana, com recurso a muros, passeios e zonas de recolha de águas pluviais que darão origem a pequenos lagos.

Um antigo caminho, que foi utilizado para transporte de animais neste pedaço de Madrid, voltará a ganhar vida, integrando-se num troço do parque, em forma de folha de árvore, que incorporará as zonas de bosque mais densas de toda a área tratada pelo urbanista português e sua equipa. À semelhança de uma folha, este excerto do parque será dividido a meio por uma nervura, correspondendo a uma linha de cumeada que servirá, também, de miradouro.

Finalmente, e aproveitado a topografia e movimento natural das águas no terreno, serão criadas zonas húmidas, como lagoas, que culminarão numa praia artificial. Este grande momento de toda a intervenção terá características de veraneio e lazer. Sobre a água nascerá um anfiteatro e, nas cercanias, um centro de informação ambiental, restaurantes, cafetarias e praças.

Consciente da cultura urbana das grandes cidades e de Madrid em particular, João Ferreira Nunes entende que o tema "Sol Y Sombra", que motivou o projecto, também se estenda às intervenção dos utentes do parque. Assim, adivinha para os seus "muros brancos, onde se desenham sombras," um futuro em que "se desenham também graffiti, signos e mensagens, retirados ano após ano e transformados em frutos do parque, para darem lugar, uma vez mais, ao branco...

Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1336491&seccao=Arquitectura

Três torres em Milão - Daniel Liebskind

Três torres em Milão

A preparação da Expo 2015, que se realizará em Milão, está em marcha. Daniel Liebs- kind tem a seu car- go o plano urbanístico, com Zaha Hadid, Arata Isozaki e Pier Paolo Maggiora convidados a darem contributos à sua proposta, que ganhou um concurso internacional em 2004.

Localizada no centro da cidade e ocupando cerca de 3000 metros quadrados, a área em questão é uma ampliação do complexo que actualmente acolhe a Fiera Milano, onde se realizam as grandes feiras internacionais de design e mobiliário.

O complexo contempla zonas residenciais, comerciais, de serviços e de lazer, com destaque para um grande parque - será o "pulmão" de Milão - e para o Museu de Arte Contemporânea, ambos da autoria de Liebs- kind.

O arquitecto polaco encontra- -se ainda a projectar torres de escritórios e a primeira zona residencial do complexo.

Para Liebskind, a intervenção apresenta um desafio, que extravasa a mera composição de edifícios e espaços públicos: " Milão é o centro cultural de Itália, exibindo o melhor que a Itália tem para oferecer. É um lugar que acarreta os sonhos, aspirações e o orgulho de todos os milaneses. Nesse sentido, a intervenção tem de ser representativa da grandeza do design, mobiliário, moda e tecnologia italianas e não merece nada menos que uma intervenção urbana visionária, embora prática."

A tradução arquitectónica e urbanística deste pressuposto é, segundo o arquitecto, eficaz: "Apesar da magnitude do projecto, a estratégia da proposta é simples e directa: a proposta consiste numa série de arquipélagos colocados no futuro parque, cada um propondo uma variedade de diferentes escalas", conta o autor do projecto escolhido, que descreve assim as diferentes tipologias e escalas: "As unidades habitacionais que irão variar entrevillas e blocos de apartamento, serão cuidadosamente colocadas no perímetro da intervenção." Já o interior será ocupado com grandes áreas públicas, como o parque, praças e equipamentos colectivos.

A ligação à cidade será feita através de uma zona residencial, que por sua vez é contígua ao grande parque e a uma praça central.

Para a equipa de arquitectos liderada por Liebskind, a opção de colocar a habitação num anel da periferia e espaços verdes no centro permite que exista uma permeabilidade entre a parte antiga da cidade e o futuro "pulmão" ao nível de vistas, qualidade do ar e iluminação natural. Por outro lado, evoca a história urbanística de Milão, que teve o seu apogeu no século XIX, evidenciada nos blocos habitacionais com pátios intersticiais perceptíveis dos espaços públicos, a fazerem a transição entre os domínios públicos e privados de forma permeável e orgânica.

Libeskind dá ainda especial importância aos espaços e equipamentos públicos. O Museu de Arte Contemporânea, ainda numa fase inicial de projecto, irá dispor de espaços expositivos e auditório. Por outro lado, a grande praça central, já baptizada de "Piazza 3 Torri", será flanqueada por três incomuns edifícios, sinuosos e orgânicos , para utilizações comerciais e de serviços. Libeskind espera que sejam "icónicos" e resultem numa linha de horizonte escultórica, facilmente visível de longe.

Para sintetizar a sua proposta, Libeskind refere que o "projecto da Fiera Milano é excitante não só pela sua arquitectura e urbanismo, mas porque deliberadamente oferece visões estonteantes, experiências pedestres entusiasmantes, vistas maravilhosas e um balanço entre espaços comerciais, áreas de trabalho e novos ambientes habitacionais e de recreio".

Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1329762&seccao=Arquitectura

Homenagem a Oscar Niemeyer - Centro Cultural Internacional Óscar Niemeyer

Niemeyer do mundo em festa

Oscar Niemeyer é o autor do projecto e a figura evocada e homenageada no Centro Cultural Internacional que está a ser construído em Avilés, nas Astúrias, para albergar uma fundação dedicada a manter viva e acessível a memória da sua obra e pensamento.

A iniciativa de projectar o edifício - embora com outra finalidade - partiu, aliás, do próprio arquitecto brasileiro, que completou 102 anos. Vencedor, em 1989, do Prémio Príncipe das Astúrias das Artes, Niemeyer foi posteriormente convidado para as comemorações do 25.º aniversário deste galardão. Em sinal de agradecimento, decidiu presentear a Fundação com o projecto de um edifício, que mais tarde, tomaria a forma do Centro Cultural Internacional Óscar Niemeyer, por vontade do governo de Espanha e do Principado das Astúrias.

Sobranceiro ao porto da cidade, o Centro Niemeyer localiza-se numa ilha artificial, a "Isla de la Inovación", criada para o acolher e, posteriormente, a outras actividades criativas no âmbito das artes e da ciência.

O Centro irá dispor de um auditório com capacidade para mil espectadores, um espaço de exposição de cerca de 4000 metros quadrados, uma Torre Miradouro sobre a ria e a cidade e um edifício polivalente que albergará um cinema, salas de ensaio, de reuniões e de conferências. No exterior, "uma praça aberta, em que se programarão actividades culturais e lúdicas de forma contínua, e que pretende ser o elo de união entre o Centro e a cidade", refere a Fundação.

Conceptualmente, o conjunto é puro Niemeyer: dominam as formas curvas e as linhas sinuosas que caracterizam praticamente toda a obra do arquitecto brasileiro, que assinou com Le Corbusier o edifício das Nações Unidas, em Nova Iorque, e dos principais edifícios de Brasília. Como referiu no início do seu largo e vasto caminho pela Arquitectura: "Não é o ângulo recto que me atrai, nem a linha recta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."

Com uma linguagem mais próxima da escultura que da arquitectura, Niemeyer inventa e materializa objectos que criam relações entre si aparentemente casuísticas, mas que dão vida a um mundo fantástico e próprio, facilmente reconhecível, embora distinto, independente, do mundo quotodiano que habitamos.

O Centro Niemeyer será, também, um complexo cultural que pretende ter um alcance internacional, como "pólo de conhecimento e criação artística", além de contribuir para a "regeneração económica e urbanística de uma área em pleno processo de transformação cultural como é a ria de Avilés", prevê a Fundação Príncipe das Astúrias. Toda a zona ribeirinha da cidade está a ser alvo de um profundo processo de requalificação ambiental e urbana, após mais de cem anos de ocupação por actividades da indústria pesada.

No seu primeiro edifício em terras de Espanha, mais uma vez, Niemeyer recorre ao betão maciço e à cor branca, com apontamentos de cores quentes, como vermelho e amarelo, que enfatizam um mundo em festa, presente e homenagem do arquitecto ao país europeu que melhor o soube acolher.


Em: http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1342789&seccao=Arquitectura

Por: Cláudia Melo

Comité dos Arquitectos apoia Governo na requalificação dos municípios - Luanda

Presidium da assembleia de balanço e renovação de mandatos do Comité de Especialidade dos Arquitectos e Urbanistas do MPLA

Luanda - O Comité de Especialidade dos Arquitectos e Urbanistas do MPLA comprometeu-se a colaborar com o Governo no programa de requalificação urbana dos municípios do país, visando contribuir para o seu desenvlvimento e embelezamento.

A garantia é do primeiro secretário deste comité de especialidade, António Calado, que durante uma assembleia de balanço e renovação de mandato, realizada hoje (sábado), em Luanda, foi reconduzido ao cargo.

Segundo o político, o Comité de Especialidade dos Arquitectos e Urbanistas do MPLA é um órgão de consulta do partido e, sempre que solicitado, presta o seu apoio em distintos projectos.

"O comité é de consulta e nós somos uma das estruturas que está disposta a dar consultas, no quadro das atribuições que o partido der", argumentou o responsável.

Referiu que Angola está a se reconstruir e a sofrer uma série de transformações de carácter social, económico e de infra-estruturas, que exigem a intervenção de todos.

"Apoiamos o Governo a executar o seu programa no âmbito da arquitectura e urbanismo", explicou o primeiro secretário.

Relativamente ao seu primeiro mandato, que terminou hoje, disse que consistiu na mobilização e inserção dos membros no MPLA e apoio a todas a actividades político-partidárias.

A assembleia de balanço e renovação de mandato do comité de especialidade enquadrou-se nas tarefas preparatórias do VI congresso do MPLA, a decorrer de 07 a 10 de Dezembro próximo, e foi acompanhada pelo secretário para informação do partido em Luanda, Fragata de Morais.

A mesma contou com a participação de 70 militantes, dos 113 que compõem o referido comité de especialidade, que trabalha sob tutela do Comité Provincial do MPLA em Luanda.


terça-feira, 18 de agosto de 2009

Parque Escolar: Estado pagou a arquitectos mais de 20 milhões de euros sem concurso

A empresa pública criada, em 2007, para desenvolver as obras de transformação das escolas secundárias portuguesas já gastou mais de 20 milhões de euros em projectos de arquitectura que foram adjudicados por convite directo, sem consulta a terceiros nem publicitação dos contratados.

Até agora foram adjudicados 105 projectos (que correspondem ao número de escolas já intervencionadas ou em intervenção) a 80 gabinetes de arquitectura. Até ao final do ano estão mais 100 na calha.

A modernização destas 205 escolas de modo a que respondam às exigências actuais do ensino, nomeadamente à utilização de novas tecnologias e às novas normas de climatização e de ruído, representará um investimento de 2,5 mil milhões de euros. É quase o triplo do que foi gasto na construção da Ponte Vasco da Gama, por exemplo, e até 2015 deverão ser ainda intervencionadas outras 127.

Ao abrigo da legislação de excepção aprovada nos últimos dois anos em grande parte para garantir a rapidez da intervenção, a empresa Parque Escolar tem podido celebrar contratos por ajuste directo cujos montantes são, no caso dos projectos de arquitectura, oito vezes superiores ao limite fixado no regime normal. De 25 mil euros passou-se para 206 mil.

Mas neste regime de excepção estão estipuladas "obrigações de transparência" que a Parque Escolar não está a seguir. Estipula-se nomeadamente que, em caso de ajuste directo, devem ser convidadas pelo menos três entidades distintas para apresentação de propostas, bem como a obrigatoriedade da publicitação, no portal da Internet dedicado aos concursos públicos, da identificação do adjudicatário, das outras entidades convidadas e do preço contratual.

Em resposta a questões do PÚBLICO, a empresa alegou que não está obrigada a tal, uma vez que a legislação de que se socorreu para a adjudicação dos projectos de arquitectura foi o regime normal, consubstanciado no Decreto-Lei 179/99, que não previa "o tipo de publicitação exigido nas novas leis".

Esta resposta indicia estar-se perante uma espécie de dois em um que permite à Parque Escolar recorrer, por um lado, aos regimes de excepção entretanto aprovados para poder contratar mais caro, assim como para repetir encomendas por ajuste directo à mesma entidade, e, por outro lado, invocar o regime normal no que se refere à publicitação das adjudicações, regime em que o procedimento anterior se encontrava vedado.



Situação "imoral"

A um dos arquitectos escolhidos pela empresa foram já atribuídos seis projectos; outros dois respondem por cinco cada; há mais dois arquitectos com quatro encomendas e cinco com três. Segundo a empresa, um dos critérios que pesam na selecção dos projectistas é "a análise do trabalho realizado pelos arquitectos seleccionados para a fase-piloto [quatro escolas/quatro arquitectos] e para a fase 1 [26 escolas/22 arquitectos] do Programa de Modernização do Parque Escolar". Isto significa que a repetição de encomendas às mesmas entidades vai prosseguir.

Esta acumulação é particularmente delicada nos dias de hoje devido às dificuldades sentidas por muitos gabinetes de arquitectura que, devido à crise, estão com muito menos trabalho, alerta a arquitecta Ana Vaz Milheiro.

Pior: será mesmo um "escândalo público", de acordo com um texto de José Romano na revista Arquitectura 21, de que é director. Para ele, "a encomenda discricionária, sem qualquer pudor, de várias escolas a um mesmo arquitecto", tratando-se "de recursos públicos, é uma vergonha, é imoral." Considera que esta opção veio manchar todo o processo de requalificação do parque escolar que, segundo ele, constituiu a "mais importante decisão de investimento em obra pública" das últimas décadas.

Para além da experiência de trabalho com a Parque Escolar, os outros critérios de escolha dos arquitectos são "o recurso a informações curriculares recolhidas junto das entidades públicas, o trabalho desenvolvido, bem como o modo de relacionamento profissional no decurso do relacionamento contratual".



Ajuste directo

"Não os entendemos", comentou o presidente da Ordem dos Arquitectos, João Rodeia, que critica também o procedimento adoptado. A Ordem dos Arquitectos já alertou a Parque Escolar para o carácter "ambíguo" da forma de encomenda escolhida. Segundo este arquitecto, a empresa ter-se-á comprometido a lançar uma dezena de concursos, mas as informações fornecidas pela empresa ao PÚBLICO dão conta de que o ajuste directo continuará a ser o procedimento de eleição.

A Parque Escolar alega que o recurso a concursos públicos, com a envolvência de diferentes equipas, é dificilmente compatível com a metodologia adaptada nesta operação, que implica o "envolvimento, desde a primeira hora, de representantes da escola a intervencionar e do projectista". A empresa sublinha também, para justificar o recurso ao ajuste directo, a "dificuldade em compatibilizar os prazos de intervenção com os prazos inerentes à contratação por concurso público", que são mais longos.

Para o arquitecto Gonçalo Canto Moniz, que tem vários estudos publicados sobre arquitectura escolar, este argumento é insuficiente. "Um programa estatal desta dimensão poderia permitir conjugar diversos critérios de encomenda como diversos modelos de concurso público, a adjudicação directa e até a criação e um gabinete técnico para desenvolver soluções que possam vir a tipificar-se".

Escolher directamente os arquitectos, sem qualquer recurso a concursos públicos, significa não só menos transparência como excluir à partida os profissionais que habitualmente não têm acesso aos grandes trabalhos, frisa o presidente da Ordem dos Arquitectos. Sem debate, nem conhecimento público dos projectos, o que aconteceu nesta operação foi que "os arquitectos perderam completamente as escolas" e isso é tanto mais grave quando está em causa "um dos patrimónios mais importantes do século XX", lamenta Ana Vaz Milheiro.

Em: Público - http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1396335&idCanal=62

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Siza vieira assina primeiro Museu para o estado na Nazaré




O primeiro museu do Estado com assinatura do arquitecto Siza Vieira, o Museu Dr. Joaquim Manso, foi hoje apresentado na Nazaré, prevendo-se que a sua construção comece em 2010.

A obra, de seis milhões de euros, passa pela demolição do actual museu, uma moradia do início do século XX instalada no Sítio, antiga casa de veraneio do escritor e jornalista Joaquim Manso, fundador do “Diário de Lisboa”, e no seu lugar a criação de um edifício de quatro pisos.

No final da sessão de apresentação do projecto, a secretária de Estado da Cultura, Paula Fernandes, disse acreditar que o museu arqueológico e etnográfico vai ser uma “referência museológica”, mas também “arquitectónica”.

“Estou certa que será um projecto de grande relevância porque hoje os museus vivem não só dos seus acervos, mas também muito do que é o projecto arquitectónico”, afirmou Paula Fernandes.

Para a secretária de Estado este será “grande museu”, sublinhando “o traço do arquitecto Siza Vieira, o que é, obviamente, uma coisa significativa”.

“Estou convicta que será um museu que, para além de ser bonito, responda, por um lado, aos anseios das pessoas da Nazaré e, por outro lado, venha a ser muito vivido, visitado e estimado pelos daqui e pelos que de fora o venham visitar”, declarou.

Por seu turno, o presidente da Câmara Municipal da Nazaré, Jorge Barroso, realçou que o futuro edifício “irá dignificar” uma zona que considerou ser “nobre”, o Sítio, acrescentando a importância de ter o desenho de Siza Vieira.

Já o arquitecto Siza Vieira admitiu que “há condições para ser um bom museu”, numa alusão à equipa de trabalho que o acompanha, acrescentando, por outro lado, que “outra condição é por ser na Nazaré”.

Siza Vieira reconheceu que a realização do projecto foi uma “oportunidade fantástica”.

“O material a expor também é muito interessante, coisas ligadas ao mar, e é num local tão especial que é conhecido por o Sítio”, referiu, resumindo, desta forma, o trabalho: “O projecto deve melhorar o que lá está e deve parecer que já lá estava. Deve parecer que tinha que ser assim”.

O futuro Museu Dr. Joaquim Manso estende-se por quatro pisos, sendo que o rés-do-chão é ocupado, na quase totalidade, pela zona pública, onde estão, além de áreas para exposições – permanente e temporária -, cafetaria, biblioteca, loja e um auditório.

No piso -1 está prevista, igualmente, uma área de exposições, mas também serviços de restauro ou oficinas pedagógicas, enquanto no piso -2 vão estar as reservas do museu, as visitáveis e as não visitáveis.

A zona administrativa vai ocupar o piso 1.

Durante as obras para o novo edifício, que se estima durarem dois anos, o museu vai ser instalado provisoriamente num espaço da autarquia, localizado na praia.