domingo, 22 de novembro de 2009

Troufa Real apresenta "bolo de aniversário" como projecto para a nova Igreja do Restelo !!!

Arquitecto Nuno Teotónio Pereira

Um dos autores do plano de urbanização do bairro do Restelo, Nuno Teotónio Pereira, considera “uma aberração” a igreja que ali começou a ser construída na terça-feira. Para este arquitecto, a gravidade do caso deveria levar a Câmara de Lisboa a mandar parar a obra e a exigir outro projecto.

Desenhada pelo arquitecto Troufa Real, a nova igreja do Restelo inclui uma torre de cem metros de altura em forma de minarete e uma paleta cromática ousada, com paredes pintadas de dourado, vermelho, verde e cor-de-laranja. O edifício tem, num dos lados, a forma bojuda de um barco assente numas cornucópias que imitam ondas, numa alusão à época dos descobrimentos.

Autor de várias igrejas – uma das quais, a do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, classificada como monumento nacional –, Teotónio Pereira não tem dúvidas sobre a obra que está a nascer no Restelo: “Ofende de forma muito grave a paisagem urbana e os princípios basilares da arquitectura contemporânea.”

No seu entender, o projecto está completamente desenquadrado do conjunto urbano que planeou juntamente com Nuno Portas, nos anos 70, e, se for por diante, vai descaracterizar toda a encosta que se estende até ao rio. “Pela sua dimensão excessiva para as necessidades do local e pelo seu custo, nunca acreditei que fosse construído”, admite. “E, do ponto de vista da arquitectura religiosa, parece-me um completo disparate. A arquitectura das igrejas deve pautar-se pela pureza de formas e pela beleza”.

“Espanta-me por isso que o patriarcado e a própria câmara tenham consentido na sua construção”, prossegue. “A câmara deveria estar vigilante e defender os interesses da cidade”.

Movimento de opinião

Teotónio Pereira ressalva que lhe custa estar a criticar a obra de um colega – até porque partilha do princípio de que a liberdade de criação dos arquitectos não deve ser limitada. “Mas, perante este caso, não posso ficar em silêncio”, observa. “Devia formar-se um grande movimento de opinião para impedir esta obra”.

O PÚBLICO tentou perceber os meandros da aprovação deste projecto, cujos passos decisivos foram dados nos mandatos de João Soares e de Santana Lopes. Mas a consulta do respectivo processo camarário não foi esclarecedora. Tentámos, igualmente, chegar à fala quer com Troufa Real, quer com a vereadora de Santana Lopes que aprovou o projecto de arquitectura, Eduarda Napoleão, sem sucesso. Igualmente infrutíferas foram as tentativas para obter declarações por parte do actual vereador do Urbanismo, o arquitecto Manuel Salgado.

Em 2007, a propósito da escultura de Rui Chafes que o escritório de advogados de José Manuel Júdice colocou em frente à sua sede, na Avenida da Liberdade, o presidente da autarquia, António Costa, mostrou-se de acordo com uma sugestão do PCP para a constituição de uma comissão municipal de estética. Este organismo serviria para evitar a profusão de “mamarrachos”. A comissão, que de resto se destinava apenas à arte pública, acabou por não vingar.

Processo pouco claro

Apesar do seu exotismo, o projecto da igreja de Troufa Real para o Restelo foi apreciado pelos técnicos camarários como se de outro qualquer se tratasse. Não há, no processo consultado ontem pelo PÚBLICO na Câmara de Lisboa, qualquer referência dos técnicos nem à torre de cem metros, nem tão-pouco às cores a usar ou ao facto de a igreja ter a forma de um barco com ondas por baixo. Os funcionários apenas repararam em questões menores, como o número de lugares de estacionamento ou as taxas de construção a pagar pela igreja à autarquia. E estas, no valor de 198 mil euros, foram perdoadas, dada a finalidade da obra.

Fonte: publico.pt

Maqueta do projecto.

3 comentários:

  1. A cada tempo é necessário avançar, quebrar barreiras, tabus, preconceitos, e sempre romper com academismos. Bem-haja para quem se mantém igual a si mesmo e fiel aos seus princípios. Bem-haja para quem está fora do amadorismo bacoco, dos pós, dos pós pós, dos néos e demais revivalismos modernos, modernistas ou modernizantes, procurando o seu caminho através de desígnios mais elevados.


    Parabéns ao arquitecto e parabéns ao poder eclesiástico que em tempos de crise de Fé dá exemplos de saber, principalmente àqueles que, julgando já saber tudo sobre arquitectura, tecem críticas à laia de vendilhão apregoando como fresco o peixe já podre.

    Senhor, não lhes dês o peixe, ensina-lhes antes a pescar.


    Afinal ainda há arquitectura em Portugal!


    “Vós sois deuses, mas vos haveis esquecido.”
    Platão

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  2. Platão, não digas mais parvoíces.

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  3. com toda a certeza os senhores que de forma delicada agradecem tal projecto, se é que se pode chamar de projecto uma coisa destas, para aquele lugar, o Restelo, não sabe com certeza o que é arquitectura, nao critico nem posso criticar ou avaliar o gosto de cada um, ate porque a partir da modernidade o arquétipo de gosto saiu fora dos pensamentos das pessoas e o mau gosto passou a ser considerado bom. Mas a Arquitectura é muito mais do que uma forma é um lugar.

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